Posso até saber para quem estou falando, mas não faço ideia da quantidade, ou da qualidade, de pessoas que ainda hei de alcançar. Se hoje quero contar, amanhã pode ser que eu até me arrependa. Mas então já era. Um verbo não volta trás. Tenho a impressão de que fui criado apenas para isso e viver, nas entrelinhas do tempo, é somente contemplar as paisagens através das vitrines.
Sou narrador de primeira pessoa. Compartilho a trama de meu próprio destino. Como quem conta a história, escolho dizer apenas aquilo que mais me apetece, retratos que guardo na mente. Se não faz sentido, deixo de lado. Largo. Diminuo. Ignoro. Mas se julgo importante, descrevo. Acrescento. Exagero. Repito. Sigo as minhas próprias opiniões não apenas em pensamentos, mas principalmente em versos.
Não estou isento da vida. Sou eu quem dá as cartas do jogo, mas não sou eu quem controla todas as jogadas. Nem mesmo quem me desenhou entende a forma como observo e interpreto o mundo à minha volta. As particularidades que carrego são únicas e, embora alguém possa até se identificar com as opiniões que sustento, não sei ser de outro jeito, não consigo velejar contra o vento.
Tenho limitações, é claro, mas isso não é de todo ruim. Às vezes, descubro coisas que não sei em tempo oportuno, puxando na memória, ouvindo uma conversa ou lendo uma poesia. Ainda que a informação que ignoro pudesse ter me impedido de viver certos momentos, de passar por certos apuros, ainda assim acho que é melhor viver tudo do que morrer por nada. Tenho opiniões próprias e importadas, mas para narrar priorizo o meu ser mais autêntico.
Não tenho noção do que se passa além das minhas janelas. Não sei andar em lugares onde nunca estive, nem conheço pessoas que jamais encontrei. Não posso adivinhar o que os outros pensam de mim ou de si mesmos. Por mais que às vezes perceba tempestades em copos d'água, apenas faço sugestões, manifesto desejos. Minha habilidade maior é, na verdade, julgar os atos, descrever o que acontece. Por isso, às vezes, me pego falando feito as gentes, narrando com meus verbos a sina de terceiros.
Nunca tiro da cartola os coelhos. Só conto aquilo que vejo, sinto ou penso. Descrevo do meu jeito o que me contam os que viram e formaram as suas próprias imprecisões. Tudo o que sei sobre o mundo é aquilo que aprendo. Sou narrador em primeira pessoa, personagem de minha própria vivência. Ao meu autor desconhecido, seja homem, mulher ou menino, apenas agradeço. Quem sabe um dia nos veremos.
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Imagem ilustrativa do tema. Clique aqui para acessar a fonte. Acesso em 12 mar. 2025. |
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