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Meu caro Cético,
Também há uma humildade legítima em quem abre mão de seus planos para viver a vontade de Deus. Penso que quem faz isso, precisamente, já compreendeu ao menos duas ideias centrais da nossa fé: a) entendeu que possui uma missão nesse mundo e renuncia a tudo que pode atrapalhar esse propósito; b) tem consciência de que essa vida é passageira e que não há satisfação maior do que viver na eternidade com o Pai.
Considero que a primeira ideia é a mais difícil de internalizar, pois muitas vezes tendemos a planejar muito, sentimos necessidade de pensar que temos algum controle sobre nossas próprias vidas. Só que um cristão verdadeiro entende que, quando nos entregamos a Cristo, existimos para a honra e glória do Senhor. Mesmo tendo essa certeza em mente, entretanto, não deixa de ser complicado o ato de renegar tudo para viver os propósitos de Deus (principalmente quando precisamos fazer o que não queremos ou passamos por situações ruins que não entendemos).
É muito fácil cumprir a vontade do Pai quando em nossa zona de conforto. Extremamente difícil é continuar firme no Seu propósito quando passamos por provações. A bíblia diz que o Espírito Santo levou Jesus ao deserto para que, depois de batizado, Ele pudesse ser tentado pelo Diabo (Mateus 4:1-11). Ora, se até o Filho Unigênito teve que passar por provações e martírios para cumprir a vontade do Pai... Quem somos nós para pensar que jamais teremos que atravessar os nossos desertos ou resistir às nossas tentações? Somos servos e, apesar de cristãos, podemos sim passar por dor e sofrimento.
Talvez você esteja se perguntando agora, Cético, qual é então a grande vantagem de ser cristão se não posso garantir que estarei sempre livre da dor ou do sofrimento? Por que devo seguir um Deus que me conduz ao deserto e permite que eu sofra tentações? Confesso que essas são dúvidas que até mesmo eu já tive em algum momento da minha caminhada. São grandes questões que fogem totalmente ao romantismo da vida no evangelho, mas que podem ser derrubadas com facilidade, ironicamente, por uma palavra de apenas duas letras: fé.
Não devemos nos tornar crentes para evitar dor e sofrimento, desertos e tentações, até porque essa seria uma fé bem rasa e egoísta. Acho que devemos crer porque, na verdade, independente do que passemos de bom ou ruim, teremos o Pai sempre ao nosso lado. E quem tem Deus ao seu lado já entra na batalha com a vitória garantida, meu caro, ainda que se questione ou diga "meu Deus, o que eu fiz para estar passando por isso?". A Bíblia fala que até o próprio Cristo se perguntou na cruz por que o Pai o havia abandonado (Mateus 27:46). Só que quem serve a Deus tem que entender que em tudo, até mesmo quando coisas ruins acontecem, existe um propósito que coopera para um bem muito maior.
Veja que a morte de Cristo não foi algo bom, por exemplo, mas sem ela os nossos pecados não teriam sido redimidos. É difícil servir no deserto, na solidão, mas precisamos ter fé e acreditar que Deus está tentando nos tornar mais fortes, ou melhor, que Ele está nos forjando para viver algo maior. Jesus foi um homem de dores, conhecedor das aflições, desprezado por multidões assim como previu Isaías (Isaías 53), mas o que aconteceu depois que Ele cumpriu sua missão? O que houve depois que Ele foi crucificado? Isso mesmo, Cético, Ele ressuscitou! Jesus venceu literalmente a morte e foi elevado ao Reino de Deus com grande louvor e glória.
Então, para honra e glória do Senhor, Jesus se entregou à vontade de Deus. Ele cumpriu com a sua missão e se sacrificou por nós, comprovando que a segunda ideia que formulei, lá no começo dessa carta, é verdadeira. Essa vida é passageira. Nada nesse mundo paga o valor de passar a eternidade com o Pai. Lutamos nossas batalhas para que, quando chegue a nossa vez, possamos ser salvos da morte também. Afinal, é porque Cristo vive que podemos crer no amanhã.
Ciça Ribeiro,
10 de agosto de 2015.
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