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A jornada "clichê" do herói

Já percebeu que vários heróis da ficção, e diversos personagens do mundo antigo, frequentemente apresentam algumas características em comum? Já imaginou qual poderia ser a razão disso? Pois bem, aqui você irá conhecer o legado de Joseph Campbell para as ficções e finalmente por um fim em todas essas dúvidas.

O herói de mil faces tornou-se um livro de referência aos escritores. Campbell, no entanto, era estudioso e teórico da mitologia. Nessa obra, especificamente, ele buscou apresentar conceitos que os heróis mitológicos compartilhavam em comum, mas acabou trazendo à luz uma fórmula que seria utilizada por diversos contadores de histórias, no decorrer das mais diversas épocas: a jornada do herói.


A jornada do herói. Disponível em: https://expertdigital.net/a-jornada-do-heroi-pode-levar-seu-marketing-de-conteudo-a-novas-alturas/#gsc.tab=0. Acesso 19 jun. 2020.


A jornada do herói começa no mundo como conhecemos, ou como nos é apresentado na narrativa. O herói arquétipo, figura comumente espelhada no leitor, possui uma vida comum até receber o chamado para a aventura. A princípio ele pode até recusar o chamado, duvidar de sua competência, mas no fim sempre acaba cedendo ao seu destino. Ele parte, nos proporcionando uma série de acontecimentos que o engrandecem durante toda sua jornada, até que finalmente volta ao seu ponto de origem.

Sim, a jornada do herói é esférica: ela termina no ponto de partida, assim como nos apresenta a figura acima, e bem como podemos ver no vídeo abaixo, retirado do canal Pedro Villela:




Apesar de ser fruto de um estudo comparativo da mitologia, a perspectiva da jornada do herói de Campbell é um legado importante para a ficção. O mito do herói já foi ilustrado inúmeras vezes, seja em filmes, séries ou livros, e garante uma experiência que todo escritor precisa vivenciar (principalmente aqueles que querem reconstruir a trajetória de heróis épicos, e que se interessam em uma jornada "clichê").


Capa do livro "O herói de mil faces", de Joseph Campbell, pela editora Cultrix/Pensamento. A imagem, e o livro grátis em PDF, estão disponíveis em: http://lelivros.love/book/download-o-heroi-de-mil-faces-joseph-campbell-em-epub-mobi-e-pdf/. Acesso 19 jun. 2020.


Uma questão importante para o herói "clichê" é sua linhagem sanguínea. Aquiles e vários heróis épicos possuíam algo específico que justificava seu sucesso em batalhas: a ligação sanguínea, lendária ou real, com divindades. Por essa razão era muito comum a retratação por linhagens, mas a valorização do sangue é mera consequência das crenças e dos valores puramente humanos.

Na verdade, ilustrar a consciência humana por trás dos mitos, identificando padrões entre personagens de mitologias distintas, é o que parece ser a intenção de Campbell em sua obra. Durante a leitura de O herói de mil faces pude enxergar que todos os conceitos atribuídos aos heróis estão fundamentados em estereótipos, em tudo o que criamos a partir dos conceitos de mundo que temos e transmitimos. Portanto, a atribuição de características sobrenaturais ao que, ou a quem, possui algo que foge à compreensão é comum em diversas culturas e épocas.

E você, logicamente, não precisa estar amarrado a isso. O processo de criação de uma história deve ser livre. Algumas obras se tornam marcantes porque justamente quebram a regra, fogem à norma. É o que parece acontecer, por exemplo, com o filme Coringa (2019). Segundo o vídeo abaixo, retirado do canal Nerdologia, o longa do palhaço do crime trouxe algo inovador, que merece ser observado:




Não há certo e errado na criação de uma história. Todo tema pode ter potencial desde que você saiba conduzi-lo com coerência. O importante é que você, escritor(a), saiba exatamente para onde pretende ir, em que tipo de universo, épico ou contemporâneo, pretende retratar seu herói.

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