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Meu caro Cético,
Recebo com gratidão o seu relato sincero*. Conforme expliquei anteriormente, acredito que Deus seria o exemplar mais perfeito da paternidade. Infelizmente, porém, nem todos os homens que colocam seus filhos no mundo conseguem se tornar realmente bons pais. De fato fiquei muito reflexiva com a sua confissão e quero dizer que estou orando, mesmo que não acredite, para que o Pai encontre uma forma de se revelar a você da mesma forma como se revelou a mim: como o Pai de quem precisamos.
Ao contrário de você, meu amigo, eu tive um pai presente. Ele não era nem de longe perfeito, mas o amei muito assim mesmo. Foi um homem rígido, desses de criação antiga, que costumava agir de uma forma pouco gentil ou atenciosa para com os seus filhos. É verdade que trabalhava muito, mas parece que desconhecia como dizer que se importava conosco de outras formas. Para ele, trazer o pão para dentro de casa era o bastante, um ato que na cabeça dele significava a mesma coisa que dizer que nos amava.
Com o tempo, entendi que esse era o jeito do meu pai demonstrar o que sentia. Quando eu era mais jovem, porém, tinha uma ideia completamente diferente disso. Eu achava que o meu pai não me amava porque ele nunca era carinhoso ou atencioso comigo, ou mesmo com os meus irmãos. E, de fato, talvez tenha sido esse o grande problema dele: para pessoas assim, o pai era aquele que dava de comer e ponto final. Ele não entendia que cuidar de um filho também significava proporcionar a ele outros tipos de sustento.
Entendo que o sustento signifique uma coisa mais complexa, Cético. Talvez seja algo além de manter a vida ou sobreviver no mundo. Ao menos em mim, posso afirmar que existem tipos de necessidades que nem sempre advém da alimentação do meu corpo. Claro que comer é importante, mas se frequentemente leio é porque preciso alimentar a minha mente, assim como se frequentemente visito a minha família é porque preciso alimentar as minhas emoções. Portanto "sustentar" para mim significa garantir que nada, em nenhum desses aspectos pessoais, pereça em algum momento.
Então não é por acaso, meu caro Cético, que penso: Deus é quem melhor oferece todos esses tipos de sustentação, pois propõe tanto o pão que sacia a fome do corpo quanto o pão que sacia a fome do espírito (nossas carências). O maior exemplo disso encontra-se, por exemplo, no evangelho de Mateus (14:13-21), o qual descreve como Jesus, tendo apenas 5 pães e 2 peixes, alimentou uma multidão de 5 mil pessoas.
Nessa passagem da Bíblia, acho que o mais importante é, além do milagre em si, pensar que as ações do Filho justificam a vontade do Pai. Como se não bastasse trazer na sua pregação o alimento do espírito, Jesus também fez questão de alimentar o corpo de todos que ali se encontravam para ouvi-lo. Não é por acaso, inclusive, que o Cristo se autointitule como "O Pão da Vida". Isso acontece, justamente, porque Ele é capaz de saciar todos os tipos de carência que temos.
Assim acredito, meu caro, que a completude do sustento que Deus nos oferece é esse: o pão da vida, o fruto que alimenta tanto o corpo quanto a fé, trazendo a esperança de dias melhores. Este é um sinal, mais do que claro, do amor de um Pai a quem todos deveriam buscar. Então faço votos, meu querido, para que encontre o seu sustento. Que Deus possa saciar a sua fome de amor.
Ciça Ribeiro,
15 de novembro de 2014.
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* Cético me contou que, depois que leu a carta intitulada "Pai presente" (a qual Dona Ciça falou sobre a representação de Deus como Pai), decidiu enviar uma resposta. Na sua carta, Cético escreveu que o relato dela havia mexido profundamente com ele. Meu amigo tinha problemas com o seu pai biológico, posto que sempre foi uma figura ausente em sua vida. Assim, Dona Ciça toma a iniciativa de começar essa nova carta agradecendo a Cético pela sinceridade de seu relato.
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