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Plágio

Naquela época eu não fazia ideia do que era um plágio, tão pouco que isso era considerado crime. Posso hoje julgar-me culpada pelo ato, mas quando plagiei aquele texto, eu não fazia noção de que estava cometendo uma violação de ordem pública...


Não sei qual idade eu tinha quando o fato realmente aconteceu, mas creio que já possuía mais de 10 anos. Como sempre fui retida nos livros, todos sempre acharam que meu potencial estava mesmo nos estudos e que, pela minhas proezas criativas, eu tinha total capacidade legítima de fazer qualquer atividade intelectual de grande valia como, por exemplo, escrever um lindo texto de paz e reflexão.

Então em um dia qualquer, enquanto eu rabiscava alguma coisa em um dos meus trocentos cadernos, minha mãe se animou ao ler um texto em minhas coisas. Eu havia copiado esse texto de um cartão comemorativo que, por sua vez, não tinha nome do autor ou qualquer referência do mesmo. Não me lembro se a alertei sobre esse detalhe, ou se simplesmente me calei. Provavelmente, por estar concentrada nos meus rabiscos, eu devo ter feito silêncio, o que levou minha mãe a crer, com certeza absoluta, que EU havia tirado aquelas palavras da minha angelical cabeça.

Os dias foram se passando e eu esqueci esse episódio, porém minha mãe não fez o mesmo. E em uma bela tarde de domingo (ou era sábado?), entrei em casa meio displicente e deparei-me com a seguinte cena:



Isso mesmo! Minha mãe deu-se o trabalho de pegar o meu caderno, abrir na página onde estava o bendito texto, e mostrá-lo para uma amiga que era professora, acreditando que EU havia escrito aquilo!

No mesmo instante, fiquei paralisada, pois não estava crendo naquela situação. Minha mãe estava tão orgulhosa, tão triunfante, que eu, ao invés de esclarecer os fatos, simplesmente travei. A amiga dela, após ler o texto, pareceu surpresa e encantada com o que estava ali... Também, não era para menos! Aquele maldito texto havia sido escrito justamente para produzir esse efeito e, melhor ainda, havia sido escrito por uma pessoa bem mais capaz, QUE NÃO ERA EU!

Talvez uma pessoa comum tivesse desfeito aquele mal entendido ali mesmo, mas eu acabei por não fazer coisa alguma. Eu, simplesmente, "dei uma de Monalisa". Fiz voto de silêncio e dei meia volta, saindo da sala o mais rápido que pude.


Não sei se minha mãe lembra dessa história, se sim, acho que pensa até hoje que fui eu quem escreveu aquele texto... Mãe, se estiver lendo isso, agora a senhora sabe de toda a verdade! Desculpe-me por nunca ter tido coragem de confessar esse vacilo, mas acredite que resolvi não falar nada somente para não decepcioná-la e que sinto muito.

Também quero dizer que não se preocupe com o meu crime, atualmente não existem mais as provas do meu erro. Provavelmente, a senhora jogou as evidências fora quando colocou no lixo aquela pilha de cadernos velhos que eu tinha. Entretanto, mesmo se as provas todavia existissem, eu era somente uma criança boba quando o fiz e, até pelo tempo em questão, o crime já prescreveu.

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