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Meu caro Cético: a voz do silêncio

Design: @alanemouras


Meu caro Cético,

É bem verdade que raramente tenho conseguido focar em escrever. Não pense que o hábito de compor em próprio punho, ou mesmo a vontade de falar a respeito do meu Salvador, de alguma maneira possa ter arrefecido em meu peito. A alegria de propor essas linhas, bem como a oportunidade de falar sobre Deus e as Suas promessas, nunca esteve tão vívida dentro de mim. O que acontece é que, conforme a idade avança e a experiência chega, a gente se pega refletindo bastante sobre a importância da Palavra e também o valor do silêncio.

Esse tema, inclusive, me lembra do livro de Salmos, principalmente dos momentos em que o rei Davi menciona com angústia o silêncio do Altíssimo em instantes de grandes aflições e tribulações (Salmo 13:1-2; 22:1). Essas palavras vindas de alguém que foi descrito como um "homem segundo o coração de Deus" (Atos 13:22) são no mínimo chocantes, não acha? Mesmo assim, meu amigo, esses salmos não foram retirados da Bíblia e apenas hoje compreendo o motivo disso. Somente agora entendo que a força por trás dessas palavras advém da ideia de que não somos perfeitos e de que é comum que nos questionemos sobre aquilo que não entendemos. Perguntamos ao Pai porque somos filhos e ansiamos respostas para o que nos custa compreender.

Entretanto, sempre devemos entender que o silêncio de Deus também é uma resposta, inclusive quando as palavras perdem sentido para a gente. Há algumas semanas, por exemplo, encontrei-me com uma irmã da igreja que passava por uma situação delicada com o seu filho. Ela me disse que havia rezado bastante, que pediu de todo o seu coração por uma direção, mas que não recebeu do Pai as respostas que procurava. "Será que Ele não se importa conosco, dona Ciça?", ela me perguntou. "Vigia, irmã, e não blasfeme, pois apenas Deus sabe de todas as coisas" foi o que eu lhe respondi, naquela ocasião. Veja, meu amigo, que o silêncio de Deus pode revelar fraquezas na fé de qualquer pessoa. O mais importante, porém, é perseverar mesmo assim e entender que o Pai sabe o que faz e que por isso determina o tempo certo de cada coisa (Eclesiastes 3:1).

Assim como na vida há o tempo certo de plantar e o tempo exato de colher, existem também momentos certos para se falar, bem como existem momentos exatos de se manter em silêncio. O silêncio do Pai, porém, não é como o nosso. Não nos esqueçamos, Cético, de que Ele tudo pode, tudo sabe e tudo vê. Ele sonda os nossos corações e pode optar por não nos responder da forma que esperamos porque: a) precisamos adquirir uma fé mais genuína e buscar por uma maior intimidade com Ele ou b) temos que confiar mais no agir do Senhor e aprender a silenciar nossos medos e angústias. De qualquer forma, porém, se faz necessário interpretar essa "ausência de voz", pois estou certa de que Deus fala até mesmo através do silêncio.

Agora imagino que o silêncio de Deus muitas vezes pode ser um sinal de "espera e confia". Não deve ser um motivo de desespero, mas um momento de reforçar a nossa fé, uma chance de refletir a respeito de tudo o que estamos fazendo na vida. Além disso, meu amigo, quando Deus decide se abster na fala não quer dizer que Ele também tenha decidido se abster no Seu agir. A ação não depende daquilo que anunciamos. Até mesmo eu posso plantar sementes de milho no meu quintal sem precisar falar antes para alguém, pois isso depende apenas daquilo que faço com as mãos e não com a boca. O silêncio, portanto, pode ser um meio de focar e concentrar naquilo que estamos fazendo. Essa geração é que tem buscado muito mais as falas do que as atitudes, Cético. Falta para muita gente o discernimento e o respeito à vontade do Pai.

Além de tudo isso, meu amigo, o silêncio ainda pode proporcionar alegria. Ver o resultado de uma benção antes de ouvir falar dela pode proporcionar uma felicidade genuína. Lembro-me até hoje, por exemplo, de um episódio da minha infância. Quando era criança, ganhei de aniversário uma boneca que queria muito, mas que jamais imaginaria que fosse ganhar algum dia. Até agora me recordo disso, meu amigo, devido à intensidade da alegria que senti naquele momento. Portanto, Cético, penso que é por isso que não devemos concluir que o silêncio do Pai se relacione com qualquer forma de abandono, pois sabemos que Deus jamais desampara aos seus (Josué 1:9). É no silêncio, entretanto, que devemos exercitar e aperfeiçoar a nossa fé.

Ciça Ribeiro,
07 de junho de 2018.


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