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Faz um tempo desde a minha última carta. Se não me falha a memória, já se passaram mais de seis meses desde a última vez em que te escrevi. Não pense que, por causa disso, deixei de pensar em você, meu amigo. A verdade é que, na medida em que o tempo passa, percebo-me cada vez mais frágil. Há dias, por exemplo, em que estou perfeitamente disposta a escrever. Entretanto também são vários os momentos em que, por mais que eu tente, não consigo colocar em palavras o que realmente desejo dizer. Penso que isso seja coisa de idade e, portanto, espero contar com seu bom senso para ser compreendida.
Estive pensando o que escrever após esse longo hiato, mas a única coisa que me veio em mente até então foi agradecer. Sou extremamente grata, meu caro, pela forma como se mostrou interessado em tudo o que venho dizendo até então. Pessoalmente sinto que estou cumprindo com uma missão, mas sei que talvez seja muito difícil para você, enquanto ateu, ler sobre todos esses assuntos de fé em um Deus "invisível". E é por causa disso que me sinto tão admirada pela pessoa que você vem demonstrando ser. Porque em momento algum tive a impressão de que minha crença foi desdenhada. Aliás, muito pelo contrário! Penso que houve sempre respeito entre a gente e isso é bastante raro hoje em dia.
Sempre achei que é assim que as coisas devem ser normalmente. Sem o devido respeito, definitivamente, não existe uma conversa viável. Sei que há cristãos que pensam diferente de mim. Alguns são mais "enérgicos" em relação à fé, outros podem exagerar ao ponto de se tornarem vaidosos. Mas há um trecho do evangelho de João (16:7-16) em que Jesus fala que cabe ao Espírito convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo de Deus. É por essa razão, inclusive, que não tenho como princípio convencer ninguém a acreditar naquilo que eu acredito, meu amigo. Pessoalmente acho que Deus não precisa de advogados, mas sim de testemunhas. E é isso o que eu quero: testemunhar, falar sobre a alegria que sinto em servir ao Pai assim mesmo, do jeito que consigo.
Há quem acredite que Deus já escolheu aqueles que serão salvos e aqueles que serão condenados no fim dos tempos. Pessoalmente, no entanto, penso que até o Juízo Final todos podem se arrepender e crer em Jesus para que assim sejam salvos. É bem verdade que, por outro lado, existem alguns de nós que recebem uma missão além dessa. Penso que pessoas são eleitas para viver algo parecido com o que houve a Pedro e a seu irmão André, por exemplo, que em um dia comum foram chamados pelo próprio Messias para se tornarem "pescadores de homens" (Mateus 4:19), ou seja, para se transformarem em discípulos.
A missão dos "escolhidos" nesse mundo é clara, mas duas vezes mais difícil. Primeiro, eles precisam seguir os passos de Cristo, servindo aos necessitados e acolhendo aos solitários, depois devem acreditar (ao ponto de confiar e entregar a própria vida) na vontade do Pai. Em seguida, necessitam ser como testemunhas da obra de Deus e, através de sua mensagem de esperança, servir de abertura para que o Espírito possa plantar sementes no coração dos homens. Nenhuma dessas tarefas é fácil, principalmente porque a sequência é repetitiva e parece estar sempre subordinada aos ensinamentos de Cristo. A questão é que seguir essa premissa, meu amigo, já é uma tarefa suficientemente árdua para qualquer pessoa.
Sorte a nossa que Deus não costuma escolher as pessoas pelas suas qualidades ou talentos. Na verdade, na Bíblia temos várias provas de que Ele qualifica àqueles que escolhe. Assim como Pedro, que tinha um gênio muito difícil e mesmo assim foi um dos apóstolos de Cristo, vários servos do Senhor receberam o seu chamado em condições ou situações bastante adversas. Moisés matou um homem e estava refugiado no deserto quando Deus o mandou voltar ao Egito para libertar o povo hebreu. José foi vendido ao faraó como escravo pelos próprios irmãos, mas se tornou governador do Egito. David foi um mero pastor de ovelhas antes que Deus o fizesse rei de Israel. Saulo de Tarso era um assassino e perseguidor de cristãos, mas se converteu e se tornou Paulo, o autor de boa parte do Novo Testamento. E esses são apenas alguns exemplos, Cético, de que nada é impossível para Deus.
Por aqui vou tentando cumprir com as minhas missões do jeito que consigo, meu caro amigo, ainda que não seja fácil abandonar todos os meus pecados e cumprir a vontade do Pai. Se hoje estou escrevendo é porque tenho certeza de que Ele me capacita a testemunhar aqui toda a transformação que faz em minha vida. Posso não entender agora o motivo disso, pois estou aparentemente escrevendo a um rapaz que não pretende crer, mas tenho fé de que um dia tudo fará sentido.
Ciça Ribeiro,
15 de abril de 2017.
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