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Meu caro Cético,
É fato que, às vezes, para ser um bom cristão a gente tem que navegar contra a correnteza de nossas vaidades. Através do evangelho de Lucas (9:23), por exemplo, Jesus disse certa vez: "se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me". Isso quer dizer, em outras palavras, que muitas vezes devemos dizer "não" às nossas próprias vontades para cumprir com a vontade de Deus e nos tornarmos aquilo que Ele espera de nós. É por isso que perdoar é tão difícil, Cético. Muitas vezes devemos abrir mão de algumas convicções que temos (embora na maioria das vezes essas convicções sejam mero "orgulho") para seguir o nosso Mestre.
Seria muito fácil aderir aos ensinamentos de Cristo se nós não tivéssemos que sacrificar algo de nós mesmos, abandonar todos os nossos vícios e pecados. Porém a verdade, clara e definitiva, é essa: a vida do cristão é tortuosa mesmo, difícil em boa parte do tempo. Aquele que desconhece essa dificuldade, certamente, pode ainda não ter compreendido o princípio fundamental da fé cristã: servir à Deus, seguindo os passos, ou percorrendo o caminho, que Jesus Cristo revelou. Só que a porta da casa onde reside a Graça de Deus, meu caro amigo, é estreita demais (Mateus 7:13-14; Lucas 13:24-25) e, por isso, muitos ficam pelo caminho.
Não sei se já se tornou pai, Cético, mas acho que se pensar em sua própria infância talvez vá entender essa minha singela comparação. Quando sua mãe queria te disciplinar, de que forma ela fazia? Quando eu e meus irmãos errávamos, em geral, ficávamos de castigo: às vezes privados de fazer algumas coisas das quais gostávamos muito como, por exemplo, brincar à toa no quintal. Ora, se Deus também é um Pai, estou convencida de que, de alguma forma, Ele também busca nos disciplinar. A disciplina de Deus é sempre irretocável, mas o problema é que, sob a nossa visão limitada, tendemos a entendê-la como uma "provação" na maioria das vezes.
A provação é um dos maiores obstáculos da nossa vida cristã. Entretanto em várias passagens da Bíblia como, por exemplo, Deuteronômio (8:5), Salmos (94:12-13), Provérbios (3:11-12), Hebreus (12:4-11), 1Coríntios (11:31-32) e até Apocalipse (3:19), está escrito que Deus busca nos disciplinar justamente porque nos ama. Ora, meu amigo, ficar sem brincar no quintal de casa era ruim, mas a disciplina de meus pais não significava que eles não me amavam. Pelo contrário! Queria dizer que me amavam tanto que tentavam fazer com que eu me tornasse melhor. E se essa provação provém de um Pai Todo Poderoso e justo, que conhece cada um de um jeito que ninguém jamais vai conhecer (nem nós mesmos), é provável que nem sempre vamos entender a sua forma de nos disciplinar.
Eu acredito que Deus é um Pai que sabe de que maneira corrigir nossos erros, reparar nossos defeitos, para que um dia possamos ser melhores do que somos. É certo, meu caro, que o amor verdadeiro não é aquele que nos concede absolutamente tudo. Se a minha mãe fosse "seguir o seu coração", por exemplo, teria me dado todos os doces que eu queria comer e, certamente, eu teria crescido como uma criança diabética. Com isso, fica claro: amar é também negar certas coisas. E as tais "provações" surgem exatamente aí: quando Deus resolve nos dizer "não".
Por mais que não entendamos, muitas vezes o "não" de Deus acaba nos salvando. Muitos dos que se dizem "cristãos", entretanto, não aguentam e desistem ao primeiro sinal de fumaça. Magoados, eles não entendem que, mesmo quando passamos por dificuldades, Deus ainda está lá. Ele quer que sejamos, ou saibamos ser, mais fiéis, mais saudáveis, mais humildes, mais justos, mais amorosos, enfim, melhores. É por isso que em tudo devemos dar graças (Tessalonicenses 5:18), porque a vontade de Deus sempre será para com o bem dos justos (até quando não nos parecer).
Ciça Ribeiro,
01 de fevereiro de 2015.
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