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Meu caro Cético,
Sou eu quem agradece a sua gentileza*. Na verdade, gostaria muito que você pudesse me compreender por completo. Queria que entendesse o amor de Deus como uma ponte infinita, um sentimento tão grande e sublime que não reconhece barreiras. Mas, no fim, acho que o ato de acreditar ou não nesse amor também é um dom do Espírito. Depende do quanto você estará disposto a abrir o seu coração para recebê-lo.
Quando era criança, achava que meu pai não me amava porque entendia que o amor era a demonstração de carinho, talvez um abraço, uma conversa, uma risada, um momento oportuno. Hoje, ao meu ver, o amor é mais do que isso: um sentimento matriz, do qual derivam várias outras emoções. A amizade, o respeito, o cuidado, a afeição, o companheirismo, a compaixão, a empatia e o perdão são como os galhos de uma mesma árvore: todos se ramificam a partir do amor.
O amor, entretanto, pode ser romântico ou não, recíproco ou não, intenso ou não, mas a sua existência é positiva: quem vive com amor sempre vai entender qual melhor direção seguir. Se conseguimos nos colocar no lugar do outro, se perdoamos as ofensas do outro, se cuidamos uns dos outros, se respeitamos uns aos outros, é muitas vezes porque nos amamos ou então optamos que, por enquanto, talvez seja melhor descansar um pouco na sombra dessa árvore.
Além disso, para mim, o amor se tornou o único sentimento que consegue ser complexo e simples ao mesmo tempo. Em um poema de Camões, por exemplo, li que o amor é como um artigo controverso: "um fogo que arde sem se ver", "uma ferida que dói e não se sente" ou "uma dor que desatina sem doer". Hoje entendo que para ele, e para muitos outros, expressar o amor em palavras é muito difícil. Foi por isso que Deus não deixou apenas em teoria o seu amor pela humanidade, Ele na verdade também o pôs em prática. Não uma ou duas vezes, mas em várias ocasiões distintas.
Mas entre todas as passagens que falam das ações de Deus por amor aos homens, passagens que se estendem do Gênesis ao Apocalipse, considero uma em particular como o principal simbolismo desse amor posto em prática: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16). Essas palavras foram proferidas pelo próprio Jesus Cristo quando num encontro com um fariseu (um doutor da lei judaica da época) chamado Nicodemos. Elas demonstram que o amor de Deus por nós custou-Lhe muito mais do que o nosso amor por Ele.
Você consegue perceber, meu caro Cético, a intensidade dessas palavras? Você consegue imaginar o que é entregar seu próprio Filho à morte (e não à qualquer morte, mas à uma morte humilhante) para redimir os pecados da humanidade? Que amor é esse? Qual barreira poderia impedi-lo? A resposta é tão clara quanto a luz do dia: nada, nem ninguém, pode interferir no amor que Deus tem por cada um de nós. Porque este é um sentimento que sacrifica a si mesmo, que não se interpõe porque é livre, que restaura a nossa esperança, que cura as nossas feridas, que permeia a eternidade e que, portanto, não conhece limites (nem na vida e nem na morte).
Apesar de ser um tema muito tentador, não quero me estender muito mais. Afinal, prometi que seria breve em todas as minhas cartas, então... Por fim, só queria que soubesse que sigo orando por você e pelo seu coração. Tenho-te em muita estima.
Ciça Ribeiro,
19 de dezembro de 2014.
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* Depois da carta intitulada "O pão da vida", Cético respondeu com muita delicadeza que agradecia os votos de Dona Ciça, mas que não se sentia capaz de ter uma experiência real com o Deus que ela lhe descreveu. Apesar de respeitar a sua fé, na ocasião, ele escreveu que não acreditava que um homem pudesse desenvolver mesmo uma relação de amor paterno com o divino. Em contrapartida, Dona Ciça aparentemente se mostrou compreensiva e, portanto, resolveu iniciar essa carta agradecendo a gentileza com que Cético expressou as suas objeções.
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