Pular para o conteúdo principal

Arquiteta de ruínas

Uma arquiteta das letras e seus três castelos
12 ago. 2021


Ai, as ruínas do meu templo.

As pedras lodosas e as vigas tortas.

Arquitetura mofada.

Matagal desgrenhado.

Ervas daninhas e flores murchas.

O veneno dos insetos.

Poças de larvas.

Toneladas de lixo.

Miligramas de saudade.

Epílogo ou prólogo?

Início ou fim?

Meio.

Recomeço.

Do verbo faz-se a reconstrução.

Recolhem-se os dejetos na primavera.

Erguem-se as paredes no verão.

Arrancam-se raízes no outono, pois no inverno...

Tudo ao chão!

Ai, as ruínas dos meus versos.

Paro ou recomeço?

Meio.

Vem novo verbo.



Alane Moura,

04 janeiro de 2024.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Saga de Baleia

Cientistas tentam, desde remotos tempos, compreender como funciona a cabeça dos caninos. Tudo o que sabem é ainda muito limitado e pode não ser aplicado com tamanha firmeza quando falamos do Baleia. Devemos considerar que seu nome não fora forjado especificamente por seu porte físico. Baleia, na verdade, é um cão magrelo e rabugento, que fuçava os clientes de uma pequena lanchonete na tentativa de induzi-los a dar-lhe comida. Seu nome foi escolhido por sua semelhança icônica com o cãozinho Baleia, magistralmente descrita por Graciliano Ramos no consagrado "Vidas Secas", que por sua vez suponho que deve ter o escolhido por pura ironia. A saga de Baleia não durou mais que uma tarde, mas foi suficientemente distinta para valer a apreciação de alguns versos despropositais. Tudo começou no almoço, quando Baleia se aproximou com desdém da mesa onde estavam sentados quatro estudantes da UFRN. Não havia como reconhecê-los desde sempre, pois em verdade Baleia viveu sua miserá

Cabeça de Árvore

Às vezes, fico a imaginar: e se toda cabeça fosse uma árvore? O caule seria o pescoço, a sustentação, e os galhos seriam as veias, responsáveis por conduzir os nutrientes, por ligar as pontas? As folhas, na minha árvore, poderiam ser os neurônios, mas também o oxi(gênio), o ar, os pulmões? Mas o que me interessaria mais seriam as flores e os frutos, afinal, como eles se produziriam naquele jardim? Quais frutos poderiam dar a minha cabeça? Bons? Ruins? Azedos? Amargos? Doces? Aguados? Será que os passarinhos voariam até minha cabeça, comeriam os meus frutos e construiriam os seus ninhos entre os meus galhos? Será que alguém conseguiria viver nas minhas ideias e se alimentar delas? E como seria morar entre as flores novas e velhas? Imagino a confusão, a angústia das noites de inverno frio, quando os pesadelos dessem asas à boa e a má imaginação. Imagino o vento cortante a me deflorar no outono, durante uma tempestade, a me despedaçar como a decepção que cerca a realidade distante, monóto

O vendaval

Há um dragão entre essas nuvens? 12 março 2019 A vida é um intenso vendaval... A cada nova esquina, cruzamos com novidades e despejamos o que já virou passado. Engraçado é que mesmo assim, mesmo cientes disso, seguimos colecionando mágoas e vertigens sem razão. Esquecemos que o vendaval um dia passa e que suas marcas talvez nem se façam lembrança. Chorar não adianta, perder, em verdade, nos alimenta de novos sonhos e realizações. De fato, mesmo sabendo que nossa vida é passageira, nos apegamos mais às picuinhas que ao amor. Então, independente do que o vento trouxer, o vendaval tem que correr e não pode parar. Percorra todas as esquinas, aprenda, vença, perca, cante, chore, mas sempre cresça. Para que esse vendaval perdure surpreendendo o mais quente verão e o mais frio inverno.