Às vezes, fico a imaginar: e se toda cabeça fosse uma árvore? O caule seria o pescoço, a sustentação, e os galhos seriam as veias, responsáveis por conduzir os nutrientes, por ligar as pontas? As folhas, na minha árvore, poderiam ser os neurônios, mas também o oxi(gênio), o ar, os pulmões? Mas o que me interessaria mais seriam as flores e os frutos, afinal, como eles se produziriam naquele jardim?
Quais frutos poderiam dar a minha cabeça? Bons? Ruins? Azedos? Amargos? Doces? Aguados? Será que os passarinhos voariam até minha cabeça, comeriam os meus frutos e construiriam os seus ninhos entre os meus galhos? Será que alguém conseguiria viver nas minhas ideias e se alimentar delas? E como seria morar entre as flores novas e velhas? Imagino a confusão, a angústia das noites de inverno frio, quando os pesadelos dessem asas à boa e a má imaginação. Imagino o vento cortante a me deflorar no outono, durante uma tempestade, a me despedaçar como a decepção que cerca a realidade distante, monótona, solitária.
Ah, mas ainda bem que, por sorte, também imagino a alegria da primavera. Imagino o sol se pondo ao final do dia, com raios dourados atravessando-me na sua luz. Imagino o verde das minhas folhas a encher todos os olhos. Imagino as minhas pétalas amarelas, e rosas, e vermelhas, e azuis... Ah, quantas cores teriam a aquarela das minhas flores? Seriam suficientes para despistar a distância, a monotonia e a solidão deixadas pelo inverno?
E assim, somente depois de muito pensar, é que percebi: os bons frutos, assim como as flores mais bonitas, independem da estação que as árvores enfrentam. Independem do frio solitário do inverno e do calor apaixonante do verão. Para colher o melhor fruto é preciso somente ter boa semente, bom terreno, bons exemplos, boas ideias; e para produzir as mais lindas flores é preciso somente cuidar, regar, proteger, podar e amar a sua árvore. Será que o lugar de onde eu vim, será que o solo onde germinei, poderia produzir fruto melhor? Será que o cuidado que tenho, a frequência com a qual me rego, poderia produzir flores mais lindas? É isso. É somente isso que, às vezes, fico a imaginar.
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Fonte da Ilustração: https://historiasparaosmaispequeninos.wordpress.com/2017/01/11/o-homem-que-tinha-uma-arvore-na-cabeca/ |
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