Não é difícil compreender porque muitos escritores acabam por desistir. A pressão psicológica, principalmente a que se desenvolve no nosso próprio subconsciente, paralisa, petrifica, trava. Mais do que pensar em desistir nesse momento, cabe considerar que talvez... Apenas talvez... Aquele não fosse o melhor momento para escrever aquela parte, ou aquele capítulo, da sua história.
O nosso tempo é diferente, é único, e inventar é uma ação involuntária ao nosso instinto de se adaptar às situações, por mais difíceis que sejam. Sentir-se incapaz é normal, mas mergulhar de cabeça nas águas da invalidez sempre que algo parecido acontecer é autopunição, desespero, fator que simplesmente não ajuda e nem resolve a situação. Não à toa é um movimento natural do ser humano o cair, o abandonar dos próprios pensamentos, pois é de inanição que muitas ideias morrem.
Insistir é o grande desafio. Deve-se então criar um roteiro firme? A rigidez do roteiro não é sinal de força, mas representa sim a ideia de que a narrativa será mais propensa a quebrar, isto é, a ser refutada. Dar flexibilidade ao enredo, ao contexto e aos personagens da narrativa, é o próximo grande desafio. Mais do que contornar a dificuldade, despertar para a persistência parece ser um passo digno e consciente, e seguir um raciocínio coerente dentro desses três aspectos (enredo, contexto e personagens) é o objetivo. A flexibilidade, quando assegurada numa liberdade controlada, proporciona pensar de uma maneira construtiva no caminho da criação.
O chão em que se pisa deve ser conhecido, ou melhor, reconhecido dentro da própria proposta. É apenas na medida em que se escreve que conseguimos visualizar uma série de acontecimentos que antes parecem obscuros. Às vezes, alguns personagens vão sair do controle, como se ganhassem vida em nossa mente e se desgarrassem do papel, saltando a nossa frente de forma única e independente. Mas quanto aos personagens mais excêntricos é sempre interessante dar ouvidos sem dar cabimento.
Da experiência virá a capacidade de exercer uma autocrítica que não pode, sob nenhuma hipótese, ser pessoal demais, potencialmente autodestrutiva. Ela deve surgir sim do senso de coerência, muitas vezes atrelada a experiências literárias anteriores que visam apenas conhecer os acertos e excessos, ou seja, saber quando as coisas estão ou não estão indo bem. Essa sensibilidade pode e precisa ser desenvolvida, aprimorada.
Muitas pessoas pensam que escrever é um dom, uma espécie de superpoder, uma habilidade inata, mas o que propomos é apenas o produto final de muita técnica aprendida e desenvolvida com o passar do tempo. É claro que algumas pessoas podem possuir mais aptidão do que outras, mas os gênios e os pobres mortais não se ultrapassam: alguns sempre exercitam mais a linguagem do que outros. E o exercício nem sempre será a prática regular da escrita, mas sim a experiência adquirida durante a leitura ou análise de outras obras. Mas o exercício deve vir de forma controlada, a uma frequência "segura" que não prejudique o envolvimento da história, caso contrário a preguiça pode se tornar dominante e a ideia de desistir pode parecer ainda mais tentadora.
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