Agora colocaram na cabeça da gente uma ideia maluca sobre como calçar os pés. Mas quando vivia descalço, pegando frieira, não apareceu um sequer para dar remédio. A sandália era remendada com o prego que faltava na parede. Por isso o espelho caia e a praga vinha e reinava: mas o que é sete anos de azar para quem vive na falta? Depois de jovem, disseram: recuse imitações! Mas hoje é outro tempo, onde a boca sopra ao vento ideias de outras gerações. Faço o que me mandam e penso melhor pela cabeça dos outros. A marca não é apenas um nome, mas uma direção de desgosto. Onde anda a sorte? Na direita ou na esquerda do caboclo? O azar, eu sei, continua habitando o meio do povo. Por mim, penso: dentre os animais, os mais sábios são os descalços. Poderia ser o papagaio, mas ele só imita o que ouve falar. Nesse mundo, quem procura acha e quem acha se cala. Existem descalços sem opção e calçados com opinião formada. Mas, me diga então, onde isso vai parar? Talvez nos tribunais ou nos pés de gente ...
escritos inéditos de uma autora independente